Anabela Fraga: “O segredo das queijeiras é fazer o queijo com alma e coração”

Anabel Fraga

A responsável de Produção da Queijaria Vale da Estrela é uma técnica experimentada e explica-nos como e quando se percebe a qualidade de um queijo. Anabel Fraga conta-nos também que o “segredo” das queijeiras não é apenas ter mãos frias, é também fazer o queijo com alma e coração

O que tem de tradicional a produção do queijo?
A forma como é feito mantendo a tradição de dezenas de anos atrás. O nosso queijo é produzido apenas com leite de ovelha bordaleira, sal e cardo (uma enzima natural com poder de coagulação). A tradição mantém-se!
Usamos utensílios adequados aos nossos tempos de forma a garantir a higiene e segurança alimentar. A coalhada é trabalhada na francela e metida nas formas com as mãos da queijeira usando os mesmos métodos que as nossas bisavós.

Como se percebe quando o queijo vai ser de qualidade?
Inicialmente e quando da receção do leite, pelo cheiro percebe-se logo se temos ou não leite com mais ou menos qualidade. Posteriormente e após cinco a seis dias da feitura do queijo, observa-se o mesmo e quando se verifica que está a reimar  (libertar humidade gordurosa e amarelada) e apresenta um aspeto macio ao tato das mãos da queijeira. Com estas características tudo leva a crer que vamos ter um bom resultado no final da maturação.

Qual o segredo das queijeiras?
Sempre ouvi dizer às pessoas mais antigas que para fazer bom queijo as queijeiras tinham que ter mãos frias!
Mas o segredo na minha opinião, é mesmo fazê-lo com alma e coração.

O que a motiva nesta função?
O que me motiva na realidade é mesmo constatar que o resultado do produto final é termos um queijo de qualidade e excelência.
Também poder  presentear o consumidor com um queijo de características únicas Vale da Estrela  na sua mesa num jantar de família e amigos.
Além de tudo, fazer perceber  qual a diferença entre um queijo DOP  Serra da Estrela, com os ingredientes e processo artesanal que referi, e um queijo de ovelha da Serra. No nosso país os consumidores não estão bem elucidados nesse sentido.

O que poderá dizer para motivar jovens a integrarem a produção de uma queijaria artesanal?
Primeiro que tudo, fazer perceber que o que se falava sobre as queijeiras não está de forma alguma presente na nossa Queijaria Artesanal, onde temos um equipa com uma idade média de 40 anos. Fazer queijo é quase como fazer um bolo em casa, depois de desenforma-lo olhamos e gostamos do que temos à nossa frente. Com o queijo acontece a mesma coisa, quanto mais fazemos mais queremos fazer quando nos deparamos com o resultado depois de espremido e retirado da forma.
Trabalhar numa Queijaria Artesanal não é um trabalho monótono pois, desde a receção do leite à expedição do queijo, passa-se por diversas fases. Além disso é muito gratificante e de uma auto estima elevada quando entramos numa loja e vemos os nossos queijos à venda e pensamos que passaram pelas nossas mãos.
A maior retribuição que se pode receber num processo tão artesanal é receber os elogios de diversas pessoas e meios.